Por Amir Labaki
A lista de
semifinalistas em 12 categorias do 98º Oscar, o prêmio máximo anual da
Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos EUA, encerrou com
chave de ouro a temporada de reconhecimento internacional para o cinema
brasileiro do ano que se encerra. Nada menos que cinco produções ou
talentos nacionais foram destacados, esperando agora a relação final de
indicados a ser reveladas em 22 de janeiro.
“O Agente Secreto”, de Kleber
Mendonça Filho, é semifinalista em duas categorias, melhor filme
internacional e melhor elenco. O thriller político recifense parece
bem-posicionado entre os favoritos para indicações em duas das
categorias principais sem listas prévias, melhor filme e melhor ator,
com Wagner Moura.
Indicada em 2000 por “Democracia
em Vertigem”, Petra Costa conquistou com sua sequência, “Apocalipse nos
Trópicos” (Netflix), uma vaga das quinze vagas entre os documentários de
longa-metragem. Na mesma categoria, correndo por fora, “Yanuni”,
dirigido por Richard Ladkani, uma coprodução entre Áustria, Brasil,
Canadá, EUA e Alemanha, tem entre coprodutores e por protagonista Juma
Xipaia, a primeira mulher a se tornar cacique, liderando a aldeia Tukamã
na Amazônia, e também primeira Secretária de Direitos Indígenas do
Brasil.
“Amarela”, de André Hayato Saito,
foi distinguido entre os concorrentes a melhor curta-metragem de ficção.
Destacado entre os diretores de fotografia, por “Sonhos de Trem”, de
Clint Bentley (Netflix), Adolpho Veloso já fez história como o primeiro
profissional nascido no Brasil a se tornar semifinalista na categoria.
A competição é forte para “O
Agente Secreto” na disputa do Oscar de melhor filme internacional.
Rodado no Irã, mas representando a França, “Foi Apenas um Acidente” já
valeu a Palma de Ouro de Cannes neste ano ao diretor Jafar Panahi e,
diante da crônica repressiva enfrentada pelo cineasta, parece quase
irresistível a força simbólica de sua subida ao palco para receber a
estatueta para uma plateia planetária.
Nada menos acirrada é a disputa
pelo Oscar de melhor longa-metragem documental por “Apocalipse nos
Trópicos”. A confirmar-se a provável indicação entre as/os cinco
finalistas, Petra Costa terá talvez como principal concorrente a
diretora Geeta Gandbhir com “A Vizinha Perfeita” (Netflix), em que
reconstitui a partir de filmagens públicas a morte violenta de uma
afro-americana. Gandbhir é uma das grandes personagens do 98º Oscar, ao
obter também uma vaga entre os semifinalistas ao prêmio da Academia para
melhor documentário de curta-metragem por “O Diabo Não Tem Descanso”
(codireção de Christalyn Hampton, já disponível no HBO Max), que
acompanha o cotidiano de uma segurança numa clínica de aborto no estado
da Geórgia, no sul dos EUA.
Reafirmando mais uma vez a
saudável internacionalização da comunidade de documentaristas da
Academia, “A Vizinha Perfeita” é uma das apenas cinco produções
não-ficcionais que giram em torno de histórias norte-americanas dentre
os 15 semifinalistas deste ano. “Alabama: Presos do Sistema”, de Andrew
Jarecki e Charlotte Kaufman, retrata as desumanas condições carcerárias
no estado sulista a partir de registros feitos por detentos com
celulares, num dispositivo que lembra o superior “O Prisioneiro da Grade
de Ferro (Auto-retratos)”, que valeu a Paulo Sacramento o duplo triunfo
(melhor longa da competição brasileira e também da internacional) no É
Tudo Verdade 2003. Também filmado no sul dos EUA, “Seeds”, de Britanny
Shine, recorda os desafios históricos para o sustento dos fazendeiros
afro-americanos na região.
Com humor e sensibilidade, Ryan
White acompanha em “Embaixo da Luz de Neon” (AppleTV+) o impacto
dramático de um diagnóstico de câncer no cotidiano de um casal de
escritoras. Comentado aqui há dois meses e estreando nesta semana na
Netflix, “Cover-Up” traz um pioneiro retrato audiovisual de um dos
premiados repórteres americanos, Seymour Hersh, com direção da Laura
Poitras e Mark Obenhaus.
Dos dez concorrentes com focos
fora dos EUA, três investigam a Rússia de Putin e sua guerra na Ucrânia:
“A 2000 Metros de Andriivka”, de Mstyslav Chernov (É Tudo Verdade
2025), “Mr. Nobody Against Putin”, de David Borenstein e Pavel Talankin,
e “My Undesirable Friends: Part 1 – Last Air in Moscow”, de Julia
Loktev. Dois outros acompanham vozes israelenses que combatem a escalada
bárbara do conflito no Oriente Médio: ““Coexistence, My Ass!”, de Amber
Fares, e “Procurando por Liat”, de Brandon Kramer (melhor documentário
da Berlinale 2025, ÉTV 2025).
Por sua vez, Sara Khaki e
Mohammadreza Eyni venceram a competição internacional do Sundance deste
ano com a radiografia do impacto da eleição da primeira vereadora numa
pequena cidade iraniana em “Cutting Through Rocks”. Exibido no mesmo
festival, ““Folktales” de Heidi Ewing e Rachel Grady é uma espécie de
romance de formação de adolescentes numa escola no Ártico norueguês. Já a
sino-americana Elizabeth Lo acompanha na China as estratégias de uma
profissional, a “Dispersora de Amantes” do título, para salvar um
casamento em crise por um caso extraconjungal.
É uma lista forte, diversa e não
isenta de surpresas, até pela exclusão de documentários consagrados em
outras disputas do ano, como “Guarde Meu Coração Na Palma da Mão e
Caminhe”, de Sepideh Farsi, “Jayne Mansfield, Minha Mãe”, de Mariska
Hargitay (HBO), “Orwell: 2+2=5”, de Raoul Peck, e “The Tale of Silyan”,
de Tamara Kotevska. Nem mesmo para os cinco finalistas, que conheceremos
em menos de um mês, arriscaria uma previsão.
Feliz 2026 -e até fevereiro!