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11/21/2025
Em Série, Maguila Nocauteia o Boxe
Por Amir Labaki

Boxe é o mais cruel dos esportes. Seu fascínio algo macabro parece evanescer neste século, após o ápice nos cem anos anteriores. O cinema não pode reclamar inocência. Nem falemos dos cinejornais ou de filmes da Hollywood clássica.

Eis, nas últimas décadas, entre as ficções, quanto à popularidade, a hexalogia “Rocky”, estrelada por Sylvester Stallone entre 1976 e 2006, e seu spinoff na até aqui trilogia “Creed” (2015-2023), com Michael B. Jordan, e, quanto à excelência, nada menos que “Touro Indomável” (1980), forte concorrente ao topo da obra de Martin Scorsese, ambíguo que seja quanto à heroicização do pugilista, no caso Jake LaMotta (Robert DeNiro no ápice). 

Entre os documentários, todo um livro poderia concentrar-se aos dedicados a Muhammad Ali (1946-2016). Quando de sua morte, ousei um sobrevoo aqui mesmo nesta coluna (disponível online). Quase uma década se passou, e a lista não parou de crescer, incluindo uma série biográfica, em quatro episódios, capitaneada pelo grande Ken Burns (PBS, 2021, disponível em DVD e Blu-ray nos EUA, inédita por aqui). Nenhum me parece mais hipnótico do que “Quando Éramos Reis” (1996), de Leon Gast, vencedor do Oscar, uma radiografia da luta hiper midiática entre Ali e George Foreman pelo título mundial, em 1974, no então Zaire, atual República Democrática do Congo.

Respeitadas as distintas características e reservadas as devidas proporções, entre os personagens e seus impactos (inclusive políticos), entre suas carreiras e seus talentos como boxeadores, entre o escopo das produções audiovisuais com eles ao centro, Muhammad Ali e José Adilson “Maguila” Rodrigues dos Santos (1958-2024) se aproximam na série documental "Maguila - Prefiro Ficar Louco a Morrer de Fome", dirigido por Rafael Pirrho para a Globoplay. A estreia de seus quatro episódios marca um ano desde a despedida do maior pugilista peso-pesado da história do esporte no país.

Partilhavam eles a paixão pelo ringue, a obsessão pela vitória, o boxe como estrada única entre a pobreza e o conforto, e o carisma que lhes facultou uma fama para além do universo esportivo como fenômenos pop (Ali, universal, Maguila, nacional). Não haveria espaço para me deter aqui em cada item, bem cobertos pela produção.

Quatro pontos de contato me parecem mais tocantes. Primeiro, e determinante dos três outros: de família pobre de Aracaju, migrante para São Paulo ainda adolescente, Maguila descobriu em Muhammad Ali um ídolo para a vida, ao assistir pela televisão seus combates no início dos anos 1970 (em 1971, bem lembra o episódio inicial, Ali até passou por São Paulo para uma luta de exibição no Ibirapuera).

Sustentando-se como ajudante de pedreiro, Maguila foi descoberto entre treinos improvisados pelo grande Ralph Zumbano, treinador e dono de academia de boxe, ele mesmo ex-campeão sul-americano (peso-leve) e tio do maior boxeador brasileiro, Éder Jofre (1936-2022), três vezes campeão mundial (peso-galo e peso-pena). Se Zumbano desenvolveu o boxeador, a profissionalização, ascensão e popularidade tiveram por maior marco o gerenciamento de sua carreira, entre 1983 e 1989, pela parceria entre o locutor Luciano do Valle (1947-2014) e o empresário José Francisco “Quico” Leal (um dos entrevistados centrais da série).

O segundo e talvez principal treinador de Maguila foi o ex-campeão mundial (médio-ligeiro) Miguel de Oliveira, que o disciplinou e elevou ao auge da forma após assumir os trabalhos na ressaca de duas derrotas traumáticas por nocautes em 1985, para o argentino Walter Daniel Falconi e o holandês Andre Van Den Oetelar, devidamente batidos em revanches no ano seguinte. Cresceria então o sonho de uma carreira internacional mais sólida -e de uma luta com o último grande fenômeno dos ringues, Mike Tyson.

Para o grande salto com vistas à conquista do mundo, isto é, à inserção no hegemônico mercado esportivo dos EUA, cerrou-se o segundo elo com Ali, num fatídico passo em falso: a contratação de seu treinador americano, Angelo Dundee. Sob o pretexto de credenciá-lo para uma luta pelo título com Tyson, Maguila foi escalado para enfrentar outro dos concorrentes, o futuro e único quatro vezes campeão Evander Holyfield. Um dos consensos dos depoentes na série, a começar pela segunda esposa de Maguila, Irani Pinheiro, é creditar a um erro de orientação de Dundee o nocaute que, naquele segundo assalto da luta em Las Vegas em julho de 1989, encerrou a utopia de enfrentar Tyson.

Quase um ano mais tarde, numa legítima concessão de Maguila à sua memória afetiva, já aposentadas quaisquer perspectivas de maiores cinturões, como evitar uma luta com o mesmo George Foreman que ressuscitara a carreira de Ali no Zaire, ainda que uma década e meio mais velho e após um longo afastamento dos ringues? “Nunca vi um soco mais pesado do que o deste homem”, confessaria Maguila ao amigo David Cardoso (sim, o ator e diretor de cinema) sobre o golpe que o nocauteou novamente no segundo assalto.

Por ainda dez anos, Maguila insistiria em driblar a aposentadoria em lutas de grande público pelo Brasil contra adversários sem sombra de seu currículo. O círculo de espelhamentos com Ali não tardaria a concluir-se das mais trágica das formas. Diante do cotidiano por décadas de pancadas no crânio, em treinos e combates, Muhammad Ali desenvolveria a doença de Parkinson; Maguila, assim como Éder Jofre, seria diagnosticado com encefalopatia traumática crônica (ETC), como apenas neste século foi definida esta doença neurodegenerativa progressiva.

A serena e clara explicação da ETC pelo neurologista brasileiro Renato Arghinah, responsável pelos tratamentos de Éder e de Maguila, e os depoimentos de Irani, do filho do casal, Júnior Ahzura, e do amigo (e coprodutor da série) Josmar Bueno Junior, no quarto e último episódio, dedicado à fragilização e morte do pugilista, consolidam “Maguila: Prefiro Ficar Louco a Morrer de Fome" para além do nicho audiovisual esportivo. Maguila, como o herói Ali, pode não ter sido maior do que a vida, mas seguem ambos, cada qual em sua dimensão, maiores do que a morte. A um só tempo, por causa e apesar do esporte mais cruel.



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