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09/12/2025
Adeus a Silvio Tendler
Por Amir Labaki

Cineasta da história, utópico e socialista, Silvio Tendler legou-nos ao morrer no último dia 5 uma das obras essenciais do cinema brasileiro do último meio século. Somando mais de setenta títulos, entre longas-metragens, médias, curtas e séries, seus filmes foram fundamentais para a afirmação e renovação do documentário brasileiro e para a compreensão da história nacional em torno do trágico evento mais marcante para sua geração: o golpe civil-militar de 1964 e a ditadura que se instalou por 21 anos.

Tendler descobriu o amor ao cinema como frequentador e militante do circuito de filmes de arte e cineclubes de seu Rio de Janeiro natal de meados dos anos 1960. A opção pelo documentário não tardou, despertada por duas experiências: a leitura de um opúsculo sobre a obra do documentarista holandês Joris Ivens e uma sessão de “A Sexta Parte do Pentágono” (1968), curta-metragem de Chris Marker e François Reichenbach sobre a marcha de protesto até o Pentágono em 1967 contra a Guerra do Vietnã.

Os dois primeiros curtas documentais que rodou, jamais editados e infelizmente perdidos face a repressão ditatorial no Brasil e no Chile, já apontavam a coerência da trajetória. O primeiro partia de uma entrevista que Tendler realizou em 1968 com João Cândido (1880-1969), o “almirante negro” que em 1910 liderou o levante de marinheiros que passou para a história como a “Revolta da Chibata”. “La Cultura Popular Vá!”, o segundo, retratava artistas anônimos da periferia no Chile de 1973 durante o governo do socialista Salvador Allende, onde Tendler viveu na primeira parte de seu exílio.

No segundo período, já em Paris, sua formação foi completada por estudos em cinema e história e pelo convívio com seus dois mestres maiores: Ivens e Marker. Ao cinema engajado e internacionalista do primeiro dedicou seu mestrado. Com um coletivo liderado pelo segundo participou da realização do documentário “La Spirale” (1975), uma visão panorâmica do Chile desde a eleição de Allende em 1970 até o golpe militar de 1973.

É importante contextualizar o Brasil ao qual Tendler voltou em 1976. Vivia-se ainda em plena ditadura militar, no segundo ano do governo do general Ernesto Geisel, com o projeto de uma abertura “lenta, segura e gradual” ainda apenas esboçado e sob contestação pela linha dura. Apenas em 1979 o despótico AI-5 seria revogado, o último general-presidente, João Batista Figueiredo, empossado, e sancionada a lei de Anistia. No campo cinematográfico, a chamada era Embrafilme estava em seu apogeu com forte presença de filmes brasileiros nas bilheterias -mas documentários de longa-metragem eram raridade nas salas de cinema. 

Compreende-se, assim, a ousadia política e cultural do projeto fílmico ao qual logo dedicou-se Tendler. Entre o retorno e 1984, ele realizou dois longas-metragens documentais de história política, estruturados a partir de arquivos, narração em off e entrevistas inéditas, sobre duas das principais lideranças democráticas cassadas e estigmatizadas pelo regime militar ainda vigente: os ex-presidentes Juscelino Kubitscheck e João Goulart.

Tendler posteriormente classificaria esse díptico não planejado como “duas faces da mesma moeda”. Em contraste com a ditadura, “Os Anos JK – Uma Trajetória Política” (1980) lembrava não haver incompatibilidade entre “democracia e desenvolvimento”, enquanto “Jango” (1984), por sua vez, destacava a luta democrática por “justiça social”. 

Inspirado por um comentário de Joris Ivens sobre a “frieza” de “Os Anos JK”, Tendler amadureceu em “Jango” um estilo com maior ritmo e mais emoção, por meio da montagem e da trilha musical, aproximando o espectador. Ambos os filmes, assim como outro realizado entre eles (O Mundo Mágico dos Trapalhões, 1981), comprovaram a existência de um público para produções não-ficcionais brasileiras, alcançando marcas históricas entre 500 mil e 1 milhão de espectadores em salas. Nenhum filme posterior de Tendler, e apenas alguns documentários musicais, desde então se aproximaram deste desempenho. Os motivos são vários, entre os quais o impacto da revolução digital e a inexistência de uma política de distribuição para documentários. 

Aquela extraordinária arrancada forneceu o mapa de navegação para a longa e prolífica carreira documental de Tendler, com o passar do tempo algo reajustada em forma para as novas e multiplicadas telas (canais por assinatura, plataformas de streaming, internet), mas sempre fiel à perspectiva do utópico socialista. O díptico sobre as lideranças políticas da República Liberal de 1945-1964 tornou-se tetralogia com longas sobre Tancredo Neves (2010) e Leonel Brizola (2024). A resistência à ditadura pautou séries sobre a oposição e resistência de advogados, estudantes e militares.

A produção de Tendler pode ser dividida em dois vetores principais: retratos e documentários de intervenção. No primeiro grupo, eis filmes sobre cineastas como Glauber Rocha e Santiago Alvarez, poetas como Castro Alves e Ferreira Gullar, intérpretes do Brasil como Josué de Castro e Milton Santos. No segundo, documentários sobre o impacto social do capitalismo globalizado (Privatizações, 2014, Dedo na Ferida, 2017), e a denúncia dos agrotóxicos e defesa da agroecologia (O Veneno Está Na Mesa I e II, 2011 e 2014). 

Dois filmes dialogam intensamente desafiando essas classificações: o ensaístico “Utopia e Barbárie” (2009), um balanço geracional a partir de grandes eventos mundiais desde a Segunda Guerra, e o autorretrato reflexivo “Nas Asas da Pan Am” (2020). Assisti-los é a melhor introdução à cabeça de Tendler, mas suas obras-primas são mesmo “Os Anos JK” e “Jango”.

Em mais de três décadas de encontros, lembro de Silvio Tendler sempre sorrindo, amante da vida, e com um filme ou série a caminho. Repercutem em mim até hoje aquelas sessões em tela grande de “Os Anos JK” e “Jango”, entre os primeiros documentários brasileiros que assisti em sala -e não creio falar sozinho entre cinéfilos de minha geração.

Acho que era Jean Rouch que dizia que cineastas não morrem, pois continuam a viver em seus filmes. É meio isso: eles prosseguem vivos nos filmes que vivem em nós.  
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