Por Amir Labaki
O favoritismo de “Apocalipse nos Trópicos”, de Petra Costa, na premiação anual deste sábado (6) da International Documentary Association (IDA), em Los Angeles, consolidou-o na disputa por uma vaga entre os mais prováveis concorrentes ao Oscar de melhor documentário de longa-metragem, como adiantado nesta coluna há pouco mais de um mês. A radiografia da marcante influência de lideranças ultraconservadoras evangélicas na ascensão política de Jair Bolsonaro à Presidência (2019-2023), disponível na Netflix, conquistou o maior número de indicações (quatro): melhor documentário, direção, produção e escrita.
Dois dos vitoriosos do prêmio máximo da IDA nos últimos três anos venceram também o Oscar: “Tudo O Que Respira”, de Shaunak Sen (HBO Max), e “Sem Chão”, de Basel Adra, Hamdan Ballal, Yuval Abraham e Rachel Szor. Finalista ao prêmio máximo da Academia para documentários em 2020 com “Democracia em Vertigem” (Nerflix), Petra Costa fora previamente indicada a melhor direção pela IDA pelo mesmo filme.
Embora ausente dos sete indicados a melhor filme de outra importante premiação independente para documentários, o Cinema Eye Honors, “Apocalipse nos Trópicos” concorre em duas categorias na cerimônia de 8 de janeiro próximo: melhor produção e prêmio de público. O filme de Petra Costa surge ainda entre os cinco favoritos a uma indicação ao Oscar entre as previsões de dois dos três dos principais termômetros da imprensa especializada americana, Hollywood Reporter e IndieWire. Na lista da Variety, surge na 12ª posição, o que lhe garantiria uma vaga ao menos entre os 15 semifinalistas da categoria que serão anunciados no próximo dia 16 pela Academia.
Outro robusto candidato é “A Vizinha Perfeita”, de Geeta Gandbhir (Netflix), que reconstitui a morte violenta de uma afro-americana principalmente a partir dos registros de câmeras em policiais. Premiado como melhor documentário pelo Critics Choice e indicado a melhor filme pelo Cinema Eye, é destacado entre os cinco favoritos por Hollywood Reporter e Variety.
Também no grupo de frente, diferencia-se pelo tom mais intimista “Embaixo da Luz de Neon”, de Ryan White (Apple TV). O delicado registro do cotidiano das poetas Andrea Gibson e Megan Falley, para sempre alterado por um traumático diagnóstico, lidera, com seis indicações, a disputa do Cinema Eye.
Assim como Petra Costa finalista na categoria em 2020, com “Honeyland”, a cineasta norte-macedônia Tamara Kotevska posiciona-se com força para retornar à disputa com “A Tale of Silyan” (A Fábula de Silyan). Em ritmo compassado, acompanhamos a intersecção entre dramas privados e políticas públicas no dia a dia de um experiente agricultor.
Fecha o quinteto dos mais cotados “A 2000 Metros de Andriivka”, do ucraniano Mstyslav Chernov (É Tudo Verdade 2025). Ganhador do Oscar em 2023 com seu filme anterior, “20 Dias em Mariupol” (Netflix), Chernov reinventa-se com uma das mais sofisticadas narrativas sobre a guerra de Putin na Ucrânia.
Três outros títulos em que apostava na coluna de fins de outubro passado vêm também acumulando indicações em prêmios paralelos e citações em listas de imprensa. São “Cover-Up”, o retrato do jornalista Seymour Hersh dirigido por Laura Poitras e Mark Obenhaus; o ensaístico “Orwell: 2+2=5”, de Raoul Peck; e “Guarde o Coração na Palma da Mão e Caminhe”, com o massacre em Gaza pelos olhos da fotógrafa Fatma Hassona, dirigido por Sepideh Farsi (em cartaz nos cinemas).
Um total de 201 documentários de longa-metragem qualificaram-se para a rodada inicial de competição pelo Oscar (sete dos quais participaram do É Tudo Verdade 2025, um festival classificatório). É a segunda maior marca histórica, atrás apenas dos 238 títulos classificados para a premiação 2020/2021, devido às circunstâncias especiais adaptadas à pandemia.
Depois de conhecidos os 15 semifinalistas no próximo dia 16, a lista de cinco indicados será anunciada em 22 de janeiro. A 98ª cerimônia de entrega do Oscar está marcada para 15 de março de 2026.