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10/12/2025
Adeus a Jørgen Leth
Por Amir Labaki

“Jørgen Leth não está mais entre nós”, lamentava numa breve e carinhosa postagem no Facebook Anne Marie Kürstein, ex-responsável por documentários em festivais do Instituto de Cinema Dinamarquês (DFI), na tarde de 29 de setembro passado. Era o adeus a um dos mais inovadores diretores a dedicar-se sobretudo ao cinema não-ficcional, igualmente poeta, também jornalista e mais conhecido pelo grande público na Dinamarca como comentarista de TV de corridas de ciclismo como o Tour de France.

Crítico de jazz na juventude, um belo círculo involuntário se fechou com o fato de seu primeiro filme, “Stop for Bud” (1963, codireção de Ole John e Jens Jørgen Thorsen), retratando o pianista Bud Powell, e seu 47º e último, “Música para Pombos Pretos” (2022, codireção de Andreas Koefoed), terem sido dedicados ao gênero musical que tanto o encantou e inspirou. Igualmente simbólico é suas obras de estreia e de despedida serem ambos livros de poesia, “Gult Lys” (Luz amarela, 1962) e “Zombie” (Zumbi, 2025). A beleza ditada pelo acaso não lhe era estranha -na verdade, seria por ele sempre reverenciada.

O documentário experimental de curta-metragem “O Ser Humano Perfeito” (1968), com sua bem-humorada encenação de relações humanas num estúdio vazio, colocou-o no mapa cinematográfico mundial e as variações em torno dele correalizadas em “As Cinco Obstruções” (2003) por Leth ao lado de (mais correto seria dizer “provocado por”) seu mais célebre discípulo, Lars von Trier (Dogville), expandiram e renovaram seu reconhecimento. 

Não demoraria para Leth auto-infligir o mais rude golpe à própria reputação num trecho de seu primeiro livro de memórias, “Det uperfekte mennesk” (O Ser Humano Imperfeito, 2005, inédito no Brasil). “Ele descreveu seu privilégio branco, seu desejo e os traços da era colonial”, nas palavras de Jamilla Sophie Alvi no obituário publicado pelo diário dinamarquês Jyllands-Posten, ao referir-se à descrição pelo cineasta das relações sexuais mantidas com a filha de 17 anos de seu cozinheiro no Haiti, por mais de década e meia seu país de adoção. 

Houve “uma disputa moral moderna” (Alvi), um escândalo de mídia, e um cancelamento parcial e avant la lettre, com Leth perdendo o posto de cônsul honorário no Haiti e a posição de comentarista televisivo (depois revertida), por um lado, e, por outro, diretoras e diretores de renome (a geração Dogma, a de Trier, à frente) saindo em sua defesa. Leth se escudou na sinceridade de seu relato e, passado o tsumani, conta Alvi, “as estacas da barraca ainda estão fincadas no chão até hoje”.

Nas duas décadas seguintes, depois de sobreviver ao terremoto haitiano de 2010, Leth realizou mais sete filmes, sendo quatro longas, publicou mais uma dezena de livros e correu a Dinamarca em performances literário-musicais, amplificando sua visibilidade como figura “pop”, como classificou o diário Politiken em sua despedida. Seu prestígio mundial reafirmou-se com o prêmio pela carreira em 2019 no Festival Internacional de Documentários de Amsterdã (IDFA) e a comenda de Chevalier des Arts et des Lettres‎ pela França em 2022, assim como por outras homenagens e retrospectivas (Jihlava, República Checa, 2009, DocLisboa, 2010).

Seu amor pela bossa nova, despertado por João Gilberto e Tom Jobim, aproximou-o do Brasil. Jobim compôs a trilha de seu filme sobre brincadeiras infantis, “Moments of Play” (1986), parcialmente rodado aqui. No último volume de suas memórias (Mine Helte/ Det uperfekte mennesk 4, 2015, também inédito), dedicado por Leth a seus heróis, nosso maestro soberano ganhou um perfil, ao lado de Chet Baker, Fausto Coppi (ciclista), Jean-Luc Godard e Maya Deren, entre outros. 

Quando de sua participação na 8ª’Conferência Internacional do Documentário do É Tudo Verdade em 2008, Leth rodou em São Paulo cenas de “O Ser Humano Erótico” (2010). Durante a visita, o entrevistei para um retrato, “27 Cenas sobre Jørgen Leth”, lançado no mesmo ano em sessão especial do CPH:Dox de Copenhage. O filme alterna trechos do depoimento a momentos centrais de sua obra, incluindo talvez sua sequência mais célebre, a de Andy Warhol comendo um hambúrguer em “66 Cenas da América” (1981).

É outro o documentário predileto de Leth. “Amo ‘Motion Picture’ (1970), sobre o campeão de tênis Torben Ulrich, um dos meus primeiros e mais significativos filmes”, confessou ele a Annika Pham quando da homenagem pelo IDFA em 2019. “Fiz sem dinheiro nenhum, com uma câmera na mão, e foi editado de forma primitiva. Foi uma maneira muito simples e talvez a mais pura de fazer um filme. Sinto que talvez seja o meu melhor”. Nele, Ulrich se movimenta e exercita numa quadra em “slow motion”, sem o artifício da desaceleração pela câmera. Um estudo sobre o tempo e uma desconstrução do próprio registro cinematográfico.

“Sempre fui movido pela curiosidade e pelo fascínio. É isso que me mantém firme como cineasta”, explicara ele a Anne Marie Lundtofle ainda em 2004. “Não gosto de documentários que tomam suas próprias respostas como premissa. Eles basicamente buscam inspiração para seus próprios argumentos, seus próprios preconceitos. Meus documentários não são assim. São exemplos de uma atitude mais curiosa e exploratória em relação à ideia de filmar. Meu impulso nos meus filmes é entender, e é isso que os diferencia dos documentários tradicionais do tipo da BBC, que são todos produtos de saber tudo muito bem, saber demais”. Que falta fará Jørgen Leth.


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