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18/07/2025
Jean-Claude Bernardet: Um Testemunho
Por Amir Labaki

Quando, há cerca de dois anos, escrevi nesta coluna sobre “Wet mácula: memória/rapsódia” (Companhia das Letras, 144 págs., R$ 89,90), de Jean-Claude Bernardet e Sabina Anzuategui, o silêncio de Jean-Claude me soou como desaprovação. Mais de um ano passou até que uma mensagem dele, seguida por uma conversa telefônica, catalisadas por meus votos de feliz aniversário em agosto passado, dirimiu o mal-entendido.

Ele apreciara a coluna, com um raro elogio estilístico, e anunciava com entusiasmo o trabalho adiantado num novo volume dando continuidade àquela parceria literária. “Viver o medo: uma novela pornô-gourmet” (Companhia das Letras, no prelo) será seu primeiro livro póstumo.

Belga de nascimento, francês de formação, brasileiro por destino, Jean-Claude Bernardet (1936-2025) morreu na madrugada do último sábado, 12 de julho. Em horas, o impacto de um AVC complementou o processo de longa fragilização iniciado décadas antes pela convivência com o HIV e posteriormente por um câncer, recusando-se ele nos últimos anos a submeter-se à indústria de longevidade da medicina contemporânea.

“Vivo num clima de morte, respiro a morte”, escreveu num dos textos de seu penúltimo livro em vida, “O corpo crítico” (Companhia das Letras, 2021, 126 págs., R$ 69,90). Sempre na contracorrente das expectativas, explicava: “Não é o câncer. Parte da sociedade quer acabar com o grupo social ao qual pertenço, a opressão me sufoca. Negam o Renascimento e se voltam para uma pretensa Idade Média totalmente inventada, masculina, branca, cristã, despojada de todo espírito crítico e guerreira”. Com a verve tradicional, resumia a então vigente era Bolsonaro.

Uma das razões potenciais que eu aventara para sua pretensa reprovação à coluna me parecia ser sua classificação como “decano dos críticos de cinema do país”. Jean-Claude recusava-se a ser classificado, como eu bem me lembrava de sua enfática refuta à autodefinição no retrato dirigido por Kiko Mollica, “Crítica em Movimento” (2004).

Na época daquela entrevista, passara mais de uma década desde que ele renunciara profissionalmente à atividade, em parte pelo lento processo de comprometimento de sua visão, mergulhando numa frenética atuação em parcerias sobretudo cinematográficas, como corroteirista, ator e codiretor, principalmente com toda uma nova geração, de Tata Amaral (“Um Céu de Estrelas”, 1996) a Fábio Rogério (“Cama Vazia”, 2023) -e ainda contando.  Peço perdão por não nominar outras colaborações, que esgotariam este espaço como encantaram as redes sociais e a Cinemateca Brasileira numa reconfortante cerimônia de adeus.

Uma forma, ainda que restritiva e imodesta, de respeitar a recusa à definição do múltiplo e mutante Jean-Claude (já nesses adjetivos incorrendo eu naquele pecado) é resumir nossas distintas interações pessoais, por pouco mais 40 anos. Naturalmente nem incluo a minha como leitor, anterior ao primeiro contato, em alguns de seus primeiros livros, como a pioneira análise do Cinema Novo, em “Brasil em tempo de cinema”, de 1966 (edição original pela Civilização Brasileira); a coletânea implacavelmente autocrítica, reunindo a primeira fase de seus escritos jornalísticos, “Trajetória crítica”, de 1978 (Pólis), até hoje meu preferido; a síntese didática originalmente para público internacional, “Cinema brasileiro: Propostas para uma história”, de 1979 (Paz e Terra); e outra síntese para iniciantes, de amplitude em tudo impressionante, “O que é cinema”, de 1980 (Brasiliense).

Insistindo na exposição cronológica que como método ele tanto implicava, o conheci em 1983 como aluno do então curso de cinema da ECA-USP, ao qual há pouco retornara depois do afastamento forçado pela repressão da ditadura militar. Sua disciplina, Cinema Brasileiro, naquele semestre enfocava essencialmente o documentário (palavra que ele odiava), privilegiando-nos com parte das novamente pioneiras análises que dois anos mais tarde desbravariam os estudos audiovisuais no país, agora com foco na não-ficção, em “Cineastas e imagens do povo” (Brasiliense).

O vetor se inverteria em 1986, quando, sem maiores contatos recentes, fui por ele honrado pela surpreendente presença no lançamento de meu primeiro livro, “1961 - A crise da renúncia e a solução parlamentarista” (Brasiliense), uma reportagem histórica substituta a um projeto então inviabilizado de documentário, afinal concretizado no mês passado na série “1961” (Canal Brasil, disponível pelo Globoplay). 

O convívio se intensificara tendo-o como conselheiro valioso durante minha primeira gestão à frente do MIS-SP, entre 1993 e 1995. Nesse ano, de volta às atividades exclusivas de crítico de cinema na “Folha de S. Paulo”, a amizade se estreitou como companheiros de viagem por três semanas de visita a Tóquio, Kyoto e Nara, numa delegação de cineastas e críticos convidados pela Fundação Japão para celebrar a um só tempo o centenário da amizade Brasil-Japão e do cinema. Improvisado à intensa agenda oficial, um almoço a dois escalou para inédita intimidade numa conversa sobre sua soropositividade, tanto sobre as dores (palavra minha) quanto sobre “uma vibratilidade nova (que) torna tudo mais agudo”, como escreveria ele em “A doença, uma experiência” (Companhia das Letras), publicado no ano seguinte.

No retorno da viagem, para uma série de entrevistas históricas para a “Folha” em torno do centenário do cinema, pela primeira vez me defrontei como jornalista com a intensidade de um encontro com Jean-Claude como entrevistado. Três anos mais tarde, tive o privilégio de novo depoimento (inédito), para uma pesquisa sobre o cineasta paulista Luiz Sergio Person (1936-1976), com quem escrevera “O Caso dos Irmãos Naves” (1967) e uma adaptação infelizmente não filmada de “A hora dos ruminantes”, de J. J. Veiga.

Como protagonista de um belo documentário sobre esse projeto interrompido, dirigido por Tarsila Araújo e Marcelo Cordeiro de Mello e lançado no É Tudo Verdade deste ano, Jean-Claude se despediu do festival apenas nas telas. Nestas três décadas, o incentivo de seu abraço raramente nos faltara, como jurado (2000) ou palestrante (2003), espectador ou cineasta, nesta atividade desde a edição inaugural, com um de seus mais brilhantes documentários de arquivo, “São Paulo, Sinfonia e Cacofonia” (1994), e até seu curta mais recente (o citado “Cama Vazia”, rima audiovisual de “O corpo crítico”).

Na conclusão de “O que é cinema”, Jean-Claude provocava: “O que é o cinema? No final do livro, vocês não sabem. Eu também não”. No quase meio século desde aquela publicação, mais que ninguém ele nos ofertou uma possível resposta. O cinema, isto é, a vida.
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