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18/10/2024
Uma Distopia para Nossos Tempos
Por Amir Labaki

Nada indicava na trajetória do cineasta britânico Asif Kapadia um corte como “2073”, um híbrido de documentário e ficção lançado fora de concurso no recente 81º Festival de Veneza que chega agora ao país como um dos destaques da 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. A sólida carreira de Kapadia já lhe valeu um Oscar de melhor documentário por “Amy” (2015), um intimista balanço da vida breve e longa arte da cantora e compositora britânica Amy Winehouse (1983-2011), um dos excelentes retratos que rodou em pouco mais de uma década, incluindo “Senna” (2010), “Maradona” (2015) e mais recentemente “Federer: Doze Últimos Dias” (2024).

Para além de documentários biográficos, mas ainda no campo não-ficcional, é impressionante como o privado, o musical e o político-social se complementam na série “1971: O Ano Em Que A Música Mudou o Mudou” (AppleTV, 2021). Tampouco falta-lhe experiência em ficções. Foi com uma aventura passada na Índia feudal, “Um Guerreiro Solitário”, que Kapadia recebeu em 2003 o prêmio de revelação do BAFTA (o “Oscar” britânico). 

Ele rodou mais três longas dramáticos, assim como episódios para a série criminal “Mindhunter” (2017-2019). O ponto fora da curva de sua filmografia até agora era um animadoc de curta-metragem em realidade virtual, de 2021, sobre Laika, a cadela pioneiramente colocada na órbita terrestre pelos soviéticos em 1957.

“2073” quebra a fôrma, ao combinar documentário e ficção científica num ensaio distópico. Com o título explicitamente homenageando o “1984” de George Orwell, Kapadia aponta como primeira inspiração cinematográfica o curta experimental de ficção científica “La Jetée” (1962), de Chris Marker. De estrutura elíptica, montado quase exclusivamente a partir de imagens fixas, avança e recua no tempo, num subterrâneo parisiense, após a Terceira Guerra Mundial. 

A trama ficcional de “2073” é também pós-apocalíptica, assim como se embaralham passado e presente. Diferencia-o do filme de Marker mesclar uma dimensão documental à ficcional. “La Jetée” reage à corrida nuclear em plena Guerra Fria; “2073”; ao corrente acúmulo de crises, da emergência climática à multiplicação de autocracias.

Ecoando sua participação em outra distopia fílmica, “Minority Report”(2002), adaptada de Philip K. Dick por Steven Spielberg, Samantha Morton protagoniza, quase de maneira exclusiva, a narrativa futurista de Kapadia. Acampada solitariamente num bunker subterrâneo, Morton recorda o passado idilíco anterior à catástrofe e se esgueira aceleradamente na superfície, por entre ruínas do que outrora foi São Francisco.  

É constante o temor de sua captura como “suspeita” pelo novo Estado totalitário, controlador de tudo por um panóptico de segurança, sob a forma de câmeras e drones, e tropas em ronda. Nada se precisa sobre o que foi e como aconteceu o “Evento”, como se batizou a hecatombe planetária ocorrida 37 anos antes de 2073, mas pistas vão se acumulando em micro-ensaios de materiais de arquivo e comentários de especialistas.

A principal entrevistada é a ensaísta americana Anne Applebaum, a partir do quadro central radiografado em seus dois mais recentes estudos de política contemporânea, “O Crepúsculo da Democracia – Como o Autoritarismo Seduz e As Amizades são Desfeitas em Nome da Política” (Record, 2021, 168 págs) e “Autocracia S/A – Os Ditadores Que Querem Dominar o Mundo” (Record, no prelo, 182 págs).

Applebaum apresenta o quadro geral de corrosão da democracia por um círculo mundial de autocratas, com registros jornalísticos ilustrando a ciranda entre eles: Putin na Rússia e Xi na China, Modi na Índia, Bolsonaro no Brasil e Maduro na Venezuela. Com carisma e contundência, a jornalista Maria Ressa, Prêmio Nobel da Paz em 2021, resume como caso tragicamente modelar as Filipinas a partir da eleição do ex-presidente Rodrigo Duterte (2016-2022). 

Dissecados pela repórter Carole Cadwalladr, os bastidores do Brexit desvelam o impacto disruptivo e destruidor das “fake news” e redes sociais. Compilações de imagens de catástrofes climáticas e do horror da pandemia de Covid-19 tornam tímido o alarme acionado por Al Gore em “Uma Verdade Inconveniente” (2006).

Se cada peça parece conhecida, documental ou ficcional, é a força da combinação delas que torna “2073” uma experiência cinematográfica especial. Louve-se a maestria com que Asip Kapadia articula organicamente registros tão variados, com a sabedoria de concentrar-se em enxutos 85 minutos.

Assistindo ao filme me veio à mente um comentário de George Orwell em “Recordando a Guerra Civil Espanhola”, seu relato autobiográfico de 1943 sobre sua experiência como voluntário junto às forças democráticas contra as tropas franquistas. “Há, talvez, algo de infantil ou mórbido em ficar atemorizado com visões de um futuro totalitário?”, escrevia ele, cinco anos antes de compor “1984”. “Antes de descartar o mundo totalitário, como um pesadelo impossível de existir, lembre-se de que, em 1925, o mundo atual teria parecido um pesadelo impossível de existir”. Haveria epígrafe melhor para o “2073” de Kapadia?

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