Por Amir Labaki
“Oppenheimer”, melhor
filme; Christopher Nolan, melhor diretor; Cillian Murphy, melhor ator;
Lily Gladstone (Assassinos da Lua das Flores), melhor atriz, fazendo
história como a primeira indígena dos povos originários dos EUA indicada
e premiada na categoria; o francês “Anatomia de Uma Queda”, melhor
filme internacional e melhor roteiro original. A 96ª cerimônia de
entrega do Oscar da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, neste
domingo (10), parece jogo jogado, resguardadas surpresas de última
hora.
A ciranda de premiações de associações
específicas (produtores, atores e diretores, mais recentemente) cravou o
amplo favoritismo de “Oppenheimer” como o mais que provável grande
vitorioso da noite. Um breve artigo no “New York Times” do editor de
colunas de opinião de cultura Adam Sternbergh, no último dia 26, foi ao
ponto quanto ao simbolismo de um triunfo do drama histórico de Nolan
para a indústria audiovisual norte-americana: “Depois da perturbação
pandêmica, de duas greves e do pânico por toda a indústria quanto ao
modelo básico de negócio, Hollywood precisa de (uma recuperação em) ‘W’.
‘Oppenheimer é isso, num final perfeito: um filme biográfico de gosto
popular que fez quase um bilhão de dólares assinado por um respeitado
autor de blockbusters”.
Sternbergh lembra que
faz mais de uma década desde que um “grande filme hollywoodiano venceu o
principal prêmio de Hollywood”: “Argo”, dirigido por Ben Affleck, nos
idos de 2012. Desde então, sucederam-se produções independentes (No
Ritmo do Coração, Nomadland) e internacionais (Parasita). “A história
dos vencedores como melhor filme funciona como uma história paralela da
indústria”, argumenta o articulista.
O mesmo
pode ser sustentado quanto à história das indicações e, mesmo
concorrendo a melhor filme e em outras sete outras categorias, sobretudo
a exclusão de Greta Gerwig da disputa do Oscar de melhor direção pela
comédia musical “Barbie” simboliza um ponto cego da Academia quanto ao
reconhecimento feminino, afinal para o campeão das bilheterias recentes,
com quase 1,5 bilhão de dólares mundo afora. Ao lado de Noah Baumbach,
Gerwig emplacou uma vaga entre os concorrentes a melhor roteiro
adaptado, improvável prêmio de consolação, assim como Margot Robbie,
ausente entre as atrizes indicadas, está na disputa como coprodutora na
indicação a melhor filme.
Para os analistas
futuros, a relação dos dez concorrentes à produção do ano me parece que
indicará uma safra vigorosa, contas feitas após tantos eventos
disruptivos: “Anatomia de Uma Queda”, “Assassinos da Lua das Flores”,
“Barbie”, “Ficção Americana”, “Maestro”, “Oppenheimer”, “Pobres
Criaturas”, “Os Rejeitados”, “Vidas Passadas”, “Zona de Interesse”. Nem
todos estariam na minha lista, mas a maioria estaria, e há inegavelmente
excelência e diversidade. Desde que a Academia voltou a ampliar para
até uma dezena de indicações na categoria principal, não encontro um
grupo de solidez comparável.
O quadro recente é
distinto na competição de melhor documentário de longa-metragem.
Nenhuma categoria do Oscar colheu frutos mais positivos da política de
ampliação da diversidade étnica e internacional da Academia. A barra
subiu com a inegável cosmopolitização da disputa.
Seria
impensável há uma década uma lista de cinco finalistas sem um único
documentário de produção majoritariamente dos EUA. Os concorrentes são
“As 4 Filhas de Olfa”, de Kaouther Ben Hania
(França/Tunísia/Alemanha/Arábia Saudita/Chipre),“20 Dias em Mariupol”,
de Mstyslav Chernov (Ucrânia), “Bobi Wine – O Presidente do Povo”, de
Moses Bwayo e Christopher Sharp (Reino Unido/Uganda/EUA),“A Memória
Infinita”, de Maite Alberdi (Chile/EUA), e “To Kill A Tiger”, de Nisha
Pahuja (Canadá).
São filmes de marcada variedade estilística e tão
salutar quanto rara predominância feminina. A lista seria formalmente
mais original se incluísse o ensaio sobre o som do americano Sam Green,
“32 Sounds”, um dos 15 semifinalistas e o grande vencedor do último
Cinema Eye Honors, a principal premiação independente para não-ficção
nos EUA. Mas, como ficou, é uma disputa que já fez história -vença quem
vencer.