Por Amir Labaki
Em 26 de fevereiro, na 89ª cerimônia de entrega do Oscar, a competição será acirradíssima – entre os concorrentes a melhor documentário de longa-metragem. Com as 14 indicações para “La La Land – Cantando Estações”, de Damien Chazelle, a disputa principal de melhor filme promete empolgar tanto quanto a apresentação do show televisivo pelo sorumbático Jimmy Kimmel, do “talk-show” da rede americana ABC.
“La La Land” empatou com “A Malvada” (1950 e “Titanic” (1997) no recorde de categorias nas quais disputará o prêmio anual da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. O musical do jovem Chazelle, de apenas 32 anos, revelado em 2014 com “Whiplash: Em Busca da Perfeição”, concorrerá aos cinco Oscars principais: filme, diretor, roteiro, atriz (Emma Stone) e ator (Ryan Gosling).
Não poderá alcançar a marca inédita de 14 vitórias pois emplacou duas das canções indicadas. Há três semanas, vale lembrar, “La La Land” bateu o recorde de triunfos no Globo de Ouro com sete prêmios, concorrendo na categoria de comédias ou musicais.
É para tudo isso? Nana-nina-não. “La La Land” é um musical gelado, com números musicais mais grandiloquentes do que impactantes (a começar da constrangedora sequência de abertura), estruturado a partir de um roteiro esquemático e protagonizado por uma dupla artificial de atores de reduzida química na tela grande.
Mas todo mundo parece ávido para ressuscitar o musical nos cinemas e Hollywood não resiste a autocelebrar-se. “La La Land” pisca para a riquíssima tradição anterior, de “Cantando na Chuva” (1952) a “A Roda da Fortuna” (1953) e “Amor, Sublime Amor” (1961), mas remete antes ao famigerado e igualmente extravagante “Moulin Rouge: Amor em Vermelho” (2001), de Baz Luhrman. Tudo indica que chegará perto dos 10 Oscars atribuídos ao musical de Robert Wise e Jerome Robbins.
Talvez não chegue lá, ou ao recorde de 11 vitórias de “Ben-Hur” (1959) e “Titanic” (1997), pois enfrenta concorrência forte sobretudo nas categorias de melhor atriz e ator. A sem-sal Stone, como a garçonete que sonha com o estrelato, disputa o prêmio com a francesa Isabelle Huppert em “Elle”, vencedora do Globo de Ouro para dramas, e com Natalie Portman como Jacqueline Kennedy (1929-1994) em “Jackie”, além de Meryl Streep na 20a indicação, por “Florence: Quem É Essa Mulher?”, e a revelação Ruth Negga, a protagonista negra do casal interracial que, numa história real, desafiou o racismo e a justiça na segregada Virgínia de 1958 no sofrível “Loving”.
O Buster Keaton jazzista de Gosling tem pela frente, por sua vez, a sutil e dolorosa performance de Casey Affleck em “Manchester À Beira-Mar”, o dilacerante drama familiar escrito e dirigido por Kenneth Lonergan (Conte Comigo; Margaret). Francamente, Andrew Garfield, no drama de guerra “Até O Último Homem” de Mel Gibson, Denzel Washington na versão para as telas da peça “Cercas” (que também dirigiu), e Viggo Mortensen pelo neo-hippie “Capitão Fantástico”, apenas completam a lista.
Recuperando-se do tropeço de dois anos do #OscarSoWhite, a Academia fez história indicando nada menos que seis intérpretes afro-americanos para prêmios de interpretação, principal ou coadjuvante. Negga e Denzel têm chance próxima a zero, mas a colega de cena dele em “Cercas”, Viola Davis, e Mahershala Ali (House of Cards), como o traficante paternal do drama de formação de um jovem negro em "Moonlight: Sob a Luz do Luar", de Barry Jerkins, são favoritos plenos. A relação de afro-americanos indicados conta ainda com Naomi Harris, de “Moonlight”, e Octavia Spencer por “Estrelas Além do Tempo”, de Theodore Melfi.
A onda negra marca até mais a robusta disputa de melhor longa documental. Nada menos que três dos cinco concorrentes debatem as relações raciais nos EUA: o favorito “O.J.: Made in America” de Ezra Edelman (Watch ESPN), “I Am Not Your Negro” de Raoul Peck ( a ser lançado aqui pela Imovision) e “A 13a. Emenda” de Ava DuVernay (Netflix). Além disso, um quarto indicado é dirigido por um cineasta negro, Roger Ross Williams, de “Vida, Animada”. A perspectiva de divisão de votos entre eles aumenta as chances de “Fogo ao Mar”, do italiano Gianfranco Rosi (já em DVD).
Parece muito remoto que o mesmo “black power” vire o jogo na disputa de melhor filme em favor de “Moonlight”, apontado como o azarão do ano com a segunda posição entre as produções de maior número de categorias, com oito indicações (como a ficção científica “A Chegada” de Denis Villeneuve). Ou que vingue uma atropelada final de “Manchester à Beira-Mar”, afinal indicado em quatro das cinco categorias principais e para um total de seis Oscars. Improvável, talvez impossível. That’s Hollywood.