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26/08/2022
“Santa Evita”: Fato e Ficção
Por Amir Labaki

Há setenta anos, completados no final de julho, morria María Eva Duarte de Péron (1919-1952) e se inflamava o mito Evita. A plataforma de streaming Star+ certeiramente lembrou a data com o lançamento da série ficcional “Santa Evita”, baseada no romance homônimo publicado em 1995 por Tomás Eloy Martínez (1934-2010), lançado no Brasil pela Companha das Letras e um dos maiores best-sellers do autor.

Fato e ficção já se embaralhavam com talento no livro de Eloy Martínez, como o fizera em “O Romance de Péron” (1985). A série torna essas fronteiras ainda mais fluidas, num estilo narrativo mais convencional.

Numa deliciosa entrevista em 2007 ao programa da RTP “Por Outro Lado”, da jornalista portuguesa Ana Sousa Dias, Eloy Martínez explicou didaticamente a origem e a estratégia narrativa de seu livro. Após a publicação de “O Romance de Péron”, em que combinava revelações em raras entrevistas com o protagonista e invenção literária para narrar a saga do caudilho argentino, Eloy Martínez foi convidado para um encontro por um telefonema de desconhecidos numa noite em Buenos Aires. Três personagens o chamavam para corrigir a história de Evita, que ele recriara com a liberdade de ficcionista em seu primeiro grande sucesso literário.

Os depoimentos e documentos apresentados lhe serviram de base para a escrita de “Santa Evita”. Eloy Martínez optou por escrever o livro, conta a Sousa Dias, invertendo os fundamentos da escola do “Novo Jornalismo” desenvolvida a partir dos anos 1960 nos EUA por Gay Talese, Lillian Ross, Tom Wolfe e Truman Capote, entre outros. Eles inovaram ao aplicar técnicas da narração ficcional para o desenvolvimento de escritos não-ficcionais, sendo “A Sangue Frio” (1966) de Capote talvez o grande marco do gênero.

Em “Santa Evita”, Eloy Martínez aplicou-se no oposto: apresentar numa narrativa pretensamente jornalística um romance sobre a morte e a vida da carismática segunda mulher do presidente argentino Juan Domingo Péron (1895-1974). A partir da até então inédita história do sequestro do cadáver embalsamado de Evita por militares argentinos quando do golpe de estado que derrubou Péron em 1955, sendo o corpo secretamente enterrado num cemitério de Milão até sua devolução ao ex-presidente em 1971, o escritor turbinou a saga, inventando cópias do corpo como estratégia de despistamento dos sequestradores.

Como prova de seu talento literário, Eloy Martínez criou ainda frases poderosas para Evita que se cristalizaram no mundo real como se fossem declarações históricas de sua personagem. Para seduzir Péron, o escritor a faz dizer: “Obrigada por existir”. “Voltarei e serei milhões” é outro mote popular jamais falado por ela.

Ao ver suas palavras ficcionais serem assumidas como declarações factuais após o lançamento do livro, o escritor explicou num artigo de jornal que estavam confundindo literatura e história. Foi rechaçado por adoradores de Evita como um herege que atentava contra o legado da protetora dos despossuídos. Até hoje aquelas frases se inscrevem nos altares de adoração a Eva Péron.

Dirigida por Rodrigo García e Alejandro Maci e escrita por Marcela Guerty, Pamela Rementería e Willy Van Broock, a série insere uma nova dimensão à espiral ficcional do livro. Ao invés de mimetizar o estilo de ficção jornalística do original, assumiu-se uma narrativa audiovisual entre o thriller e o melodrama e adicionou-se um eixo temporal que ficcionaliza a pesquisa jornalística de Eloy Martínez para o preparo do romance. Surge assim o repórter Mariano Vásquez (Diego Velázquez), alter ego do escritor, mas também com pinceladas de outro jornalista e autor argentino, Rodolfo Walsh (1927-1977), que no início dos anos 1960 pesquisou e escreveu sobre o sumiço do cadáver no conto “Esa Mujer” (1966).

Os sete episódios da série se alternam sobretudo entre três períodos: 1944-1952, do encontro entre Evita (Natalia Oreiro) e Péron (Dario Grandinetti) à ascensão ao poder e à morte precoce da protagonista; 1955-1956, quando da derrubada do presidente e do roubo do corpo embalsamado; e 1971, com a busca por Vásquez do principal responsável pelo desaparecimento, o lunático coronel Moori Koenig (Ernesto Alterio). Cenas documentais sucedem-se nos créditos iniciais do primeiro episódio e pontuam momentos centrais de cada capítulo; para tornar os limites ainda mais turvos, encena-se um importante “home movie”.

Um alentado dossier on-line no site da Star+ detalha os bastidores da produção e distingue o que é fato do que é ficção. O espectador desavisado talvez atravesse a série, contudo, assumindo que é tudo verdade.

Se o cinéfilo Tomás Eloy Martínez ainda estivesse conosco, imagino que gostaria que houvesse na série ao menos uma piscadela de alerta, na linha da frase do editor ao fim de “O Homem Que Matou o Facínora” (1962), de John Ford. “Quando a lenda se torna história, imprima a lenda”, explicita ele sua linha editorial para o veterano senador interpretado por James Stewart. “Santa Evita” filma a lenda, sem “disclaimer”.



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