Há motivos de expectativa para o cinema brasileiro. Um belo filme nacional concorre por uma vaga nas duas categorias: “Babenco – Alguém Tem Que Ouvir o Coração e Dizer: Parou”, de Bárbara Paz. Apesar da falta de apoio oficial, a produção desenvolveu uma eficiente campanha de divulgação e pode surpreender.
Mais: outros seis documentários nacionais se qualificaram para a disputa. Quatro deles estiveram na seleção do É Tudo Verdade 2020: “Libelu – Abaixo a Ditadura” de Diógenes Muniz, “Dentro da Minha Pele” de Toni Venturi, “Fico Te Devendo Uma Carta Sobre o Brasil” de Carol Benjamim, e “Meu Querido Supermercado” de Tali Yankelevich. Também classificados para a competição de documentários estão “Narciso Em Férias”, de Renato Terra e Ricardo Calil, e o inédito “Protocolo da Morte”, de André Di Mauro, sobre médicos brasileiros e americanos na linha de frente do combate à Covid-19.
No total, nada menos que treze títulos selecionados pelo É Tudo Verdade habilitaram-se entre os 238 concorrentes. A relação apresenta o vencedor da disputa internacional, “Collective” do romeno Alexander Nanau; “Agente Duplo”, que valeu uma menção honrosa à chilena Maite Alberdi; e o filme de encerramento, “Wim Wenders, Desperado” de Eric Friedler e Andreas Frege. Classificaram-se também “Cidade dos Sonhos” de Weijun Chen, “Golpe 53” de Taghi Almirani, “Influência” de Richard Poplak e Diana Neille, “Ligue Djá: O Lendário Walter Mercado” de Cristina Costantini e Kareem Tabsch, “As Mortes de Dick Johnson” de Kirsten Johnson, e “O Rolo Proibido” de Ariel Nasr.
Nunca antes também tantos documentários foram indicados para a disputa do Oscar de melhor filme internacional. Ao lado dos já citados “Agente Duplo”, “Babenco” e “Collective”, concorrem ainda a uma vaga “Era Uma Vez na Venezuela” de Anabel Rodríguez Ríos, “Notturno” de Gianfranco Rosi (Itália), “River Tales” de Julie Schroell (Luxemburgo), e “The Letter” de Maia Lekow e Chris King (Quênia).
“Agente Duplo” e sobretudo “Collective” parecem bem posicionados para repetir o feito da dupla indicação no ano passado de “Honeyland”, de Tamara Kotevska e Ljubomir Stefanov. O filme de Alberti tem uma rara candura numa safra marcada por obras engajadas, ao acompanhar a infiltração de um octogenário detetive amador num retiro de anciões. Por sua vez, já premiado como o melhor documentário europeu do ano passado, “Collective” é uma pancada em louvor do trabalho da imprensa investigativa, reconstituindo as denúncias de fraudes no sistema romeno de saúde que comprometeram a assistência às vítimas do incêndio de uma boate em 2015.
Dois documentários já disponíveis em streaming para o público brasileiro dividem o favoritismo na categoria com o filme de Nanau. Premiado pela IDA (International Documentary Association), “Crip Camp – Revolução pela Inclusão” (Netflix), de Nicole Newnham e James Lebrecht, relembra o impacto afirmativo de um campo de verão para jovens com deficiência nos EUA do início dos anos 1970. Líder nos prêmios da crítica na virada do ano, “Time” (Amazon Prime), de Garrett Bradley, condensa com ritmo e drama mais de duas décadas de gravações caseiras que acompanham a luta da afro-americana Fox Rich para reduzir a pena de 60 anos de reclusão do marido por assalto a banco.
Dificilmente os quatro acima, assim como o divertidamente macabro “As Mortes de Dick Johnson” (Netflix), ficarão de fora ao menos da lista de 15 semifinalistas. Apostaria ainda em “Boys State” (Apple TV), de Amanda McBaine e Jesse Moss, sobre um programa de treinamento de jovens lideranças políticas nos EUA, e “Bem-vindo à Chechênia”, de David France, que acompanha um grupo de apoio à comunidade LGBT na Rússia de Putin.
E a pandemia? Ao menos dois filmes, ainda inéditos por aqui, mereceriam avançar na disputa. “76 Days”, de Weixi Chen e Hao Wu, registra a devastadora onda inicial em Wuhan, e “Totally Under Control”, de Alex Gibney, Ophelia Harutyunyan e Suzanne Hillinger, sintetiza a responsabilidade do ex-presidente Donald Trump para a corrente tragédia sanitária nos EUA.
Os indicados ao Oscar serão conhecidos em 15 de março. A cerimônia de premiação, adiada da tradicional data de fevereiro, foi remarcada para 25 de abril. Tomara.