Por Amir Labaki
O recente anúncio de novas indicações a premiações paralelas esquentou a equilibrada disputa para o Oscar de melhor documentário de longa-metragem deste ano. Depois das listas para o DOC NYC, foi a vez da IDA (International Documentary Association) e do Critic’s Choice Documentary Awards (CCDA). Outra lista de peso, a do 13o Cinema Eye Awards, da qual modestamente participo do comitê de indicações, será conhecida no próximo dia 7.
Seis títulos pulam à frente marcando presença entre os indicados a melhor documentários nas três relações já anunciadas. São “Apollo 11”, de Todd Douglas Miller, “The Biggest Little Farm”, de John Chester, “The Cave”, de Feras Fayyad, “Honeyland”, de Tamara Kotevska e Ljubomir Stefanov, “Indústria Americana”, Julia Reichert e Steven Bognar e “One Child Nation”, de Nanfu Wang e Jialing Zhang, todos comentados nesta coluna no começo deste mês.
A influência das três listas deve ser matizada dadas suas especificidades quanto ao número de indicados e à diversidade quanto à existência de categorias paralelas e específicas. A IDA, por exemplo, destaca 30 concorrentes a melhor documentário, frente aos 15 da “short list” do DOC NYC e os 10 do CCDA. O festival nova-iorquino criou, por sua vez, uma nova mostra de premiados em eventos mundo afora, incluindo o É Tudo Verdade (também classificatório para a disputa do Oscar da categoria), o Círculo dos Vencedores, e o CCDA apresenta ainda disputas em categorias como melhor documentário biográfico, musical e de ciência/natureza.
Tudo somado, amplia-se significativamente o páreo. Duas produções também apresentam-se nas três listas ampliadas: “Amazing Grace”, de Alan Elliot, que concorre a melhor musical na disputa do CCDA, e “Democracia em Vertigem”, da brasileira Petra Costa, indicado pelo CCDA a melhor documentário político (e, de quebra, ainda a melhor narração).
O leque abre-se ainda mais tabulando os títulos com duas indicações. Dois dos destaques do É Tudo Verdade 2019 incluem-se neste grupo. O vencedor da competição internacional, “O Caso Hammarskjöld” do dinamarquês Mads Brügger, sobre o mistério em torno do acidente aéreo que vitimou em 1961 o secretário-geral da ONU, participa do Círculo dos Vencedores do DOC NYC e concorre a documentário mais inovador pelo CCDA. Já “Defensora”, de Rachel Leah Jones e Philippe Bellaïche, sobre Lea Tsemel, corajosa advogada israelense de acusados palestinos, também participa do Círculos dos Vencedores do DOC NYC e concorre a melhor produção pela IDA.
Quatro produções emplacaram duas indicações nas listas principais. Também já aqui discutidos, trata-se de “The Apollo”, de Roger Ross Williams, “For Sama”, de Waad al-Kateah e Edward Watts, “The Kingmaker”, de Lauren Greenfield, e “Virando a Mesa do Poder”, de Rachel Lears.
Oito títulos destacam-se por combinar a presença em ao menos uma das seleções principais e a indicação a prêmio de melhor filme de categorias específicas do CCDA. “Aquarela”, do russo Victor Kossakovsky, investiga o efeito sob as águas do planeta das mudanças climáticas. “Diego Maradona”, de Asif Kapadia, mergulha sobretudo no áureo período napolitano (1984-1991) do craque argentino.
Em “Hail Satan?”, Penny Lane devassa o polêmico Templo Satânico americano. “Midnight Family”, de Luke Lorentzen, acompanha o cotidiano da ambulância privada gerida por uma família da Cidade do México. Já o afegão Hassan Fazili documenta, em “Midnight Traveler”, a dura trajetória em direção ao exílio de uma família em fuga do Talibã.
Por fim, no front das produções de militância ecológica, surgem bem posicionados “The Elephant Queen”, de Mark Deeble e Victoria Sotne, e “Sea of Shadows”, no qual Richard Ladkani, Sean Bogle e Matthew Podolsky retratam a luta pela preservação de um cetáceo em extinção, a vaquita do Golfo da Califórnia.
O quadro geral é o da disputa por reconhecimento e visibilidade durante o atual processo de votação, pelos membros do comitê para documentários da Academia, das produções que se tornarão finalistas ao Oscar de melhor longa documental. Vale lembrar que concorre a uma vaga ao menos outro titulo brasileiro, “Cine Marrocos” de Ricardo Calil, como vencedor nacional do É Tudo Verdade deste ano. Os 15 escolhidos serão anunciados em 16 de dezembro.
PS. Após o fechamento da edição desta coluna no Valor, a IDA anunciou sua lista de finalistas. Os dez indicados a melhor filme são “Apollo 11”, “Defensora”, “Democracia em Vertigem”, “Indústria Americana”, “For Sama”, “Honeyland”, “Midnight Family”, “One Child Nation”, “Sea of Shadows” e “The Biggest Little Farm”. Reafirmam-se assim entre os favoritos citados.