Por Amir Labaki
Os dois últimos vencedores da competição internacional de longas-metragens do É Tudo Verdade, o polonês “Comunhão” de Anna Zamecka e o dinamarquês “O Distante Latido de Cães” de Simon Lereng Wilmont, estão entre os 15 semifinalistas ao Oscar que lutam para ficar, no anúncio oficial dos indicados da próxima terça-feira (22), com uma das cinco vagas para a disputa final na categoria. A 91a cerimônia de premiação da Academia acontecerá em 24 de fevereiro.
Numa demonstração de crescente cosmopolitismo, duas outras produções de fora dos EUA totalizam quatro documentários internacionais na briga deste ano. São “De Pais e Filhos”, em que o cineasta sírio Talai Derki volta sob disfarce para conviver com uma família de radicais islâmicos em seu país natal, e o espanhol “O Silêncio dos Outros”, de Almuneda Carracedo e Robert Bahar, sobre a luta por reparação judicial das vítimas da repressão franquista (1939-1977).
Uma safra de extraordinário desempenho nas bilheterias americanas marca os onze títulos americanos na disputa. Quatro deles ultrapassaram a marca histórica de mais de US$ 10 milhões em ingressos vendidos, ficando entre as 30 maiores bilheterias do gênero no mercados dos EUA em todos tempos. “Você Não Quer Seu Meu Vizinho?”, de Morgan Neville, foi além, inscrevendo-se entre as 100 maiores arrecadações de 2018 com mais de US$ 22 milhões e pautando uma adaptação ficcional com Tom Hanks no papel de seu protagonista, o animador de programas infantis Fred Rogers (1928-2003).
Os três outros são o documentário esportivo “Free Solo”, de Elizabeth Chai Vasarhelyi e Jimmy Chin, sobre a pioneira escalada sem proteção da montanha El Capitain por Alex Honnold, “Três Estranhos Idênticos”, de Tim Wardle, retrato de trigêmeos separados por uma macabra experiência médica nos EUA dos anos 60 e “RBG”, de Julie Cohen e Betsy West, sobre Ruth Bader Ginsburg, de 85 anos, apenas a segunda mulher a formar a Suprema Corte dos EUA. A recente fragilização da saúde da octogenária Ginsburg, líder da ala mais liberal da atual corte, pode apresentar uma nova oportunidade para o presidente Donald Trump indicar um novo nome que sedimente por décadas uma maioria conservadora na instituição.
Três dos concorrentes, de uma trinca de estreantes, situaram-se entre os favoritos de críticos e festivais americanos no último ano. “Hale Country Esta Manhã, Esta Noite”, de RaMell Cross, é um ensaio de estrutura jazzística sobre uma comunidade negra do Estado do Alabama. Bing Liu retrata, em “De Olho na Fenda”, doze anos dos percalços de amadurecimento de três amigos skatistas de uma pequena cidade do Estado de Illinois. Por fim, em “Shirkers” (disponível no Netflix), Sandi Tan reconstitui sua batalha por recuperar um filme experimental que lhe foi usurpado depois de rodá-lo durante a juventude em Cingapura.
Os quatro outros semifinalistas têm marcado acento social. Os deserdados de Baltimore, no Estado de Maryland, estão ao centro de “Cidade Charmosa”, de Marilyn Ness. Em “Crime + Castigo”, Stephen Maing denuncia a pressão pelo cumprimento de cotas ilegais por policiais de Nova York. “Dinheiro Escuro” (também no Netflix), de Kimberley Reed, mostra o impacto devastador nas campanhas políticas em seu Estado natal (Michigan) da recente liberalização do aporte de recursos privados pela Suprema Corte. Já “Em Seus Ombros”, Alexandria Baumbach apresenta a luta contra a violência sexual de uma ex-prisioneira do Exército Islâmico, a jovem yazidi Nadia Murad, premiada com o Nobel da Paz no ano passado.
Cumpre saudar a presença de nove diretoras distinguidas entre os 15 semifinalistas. A ver agora quantas participarão da disputa decisiva. Como o Globo de Ouro persiste em esnobar os documentários, os melhores termômetros são o prêmio paralelo Cinema Eye, entregue na semana passada, e as recentes indicações pelas associações profissionais.
Contas feitas, os favoritos a conquistar uma indicação parecem ser “Hale County”, eleito melhor filme pelo Cinema Eye e indicado aos prêmios de produtores (PGA) e diretores (DGA), “Free Solo”, escolhido pelo público do Cinema Eye, também indicado pelas mesmas associações e ainda para o BAFTA (o Oscar britânico), “Três Estranhos Idênticos” e “RBG”, igualmente concorrendo a estes três prêmios, e “Você Não Quer Ser Meu Vizinho?”, que disputa as premiações da PGA e da DGA.
Correm por fora “De Olho na Fresta”, multipremiado pelo Cinema Eye depois de vencer o Sundance 2018, e “O Distante Latido de Cães”, destacado pelo Spotlight do Cinema Eye após extensa premiação mundial. Façam suas apostas.