Nosso filme da semana é “A Gente”, realizado em 2013 por Aly Muritiba.
O Brasil tem a terceira maior população
carcerária do mundo, com mais de 700.000 presos. É um sistema prisional
arcaico, miserável e violento. Com raras exceções como os escritos de Dráuzio
Varella, seu cotidiano não é assunto. Suas explosões regulares, sim.
Antes de tornar-se cineasta, Aly Muritiba
trabalhou por sete anos como agente penitenciário em São José dos Pinhais, na
Grande Curitiba. É admirável que se destaque em sua filmografia essencial uma
trilogia do cárcere, variando o registro de uma ficção com o curta “A Fábrica”,
de 2011, a documentários como “Pátio”, de 2013, e seu primeiro longa, “A
Gente”.
Muritiba filma um universo que bem conhece.
Os três filmes nele mergulham mas a partir de perspectivas e com estilos
distintos. “A Fábrica” é um ficção epidérmica sobre a relação entre uma
visitante e um presidiário. “Pátio” é um documentário de pegada concretista sobre
o cotidiano dos detentos.
“A Gente” é um documentário observacional
que remete à trilogia de segurança de Maria Augusta Ramos. O trocadilho do
título é duplo: o foco é agora no cotidiano dos agentes penitenciários e
Muritiba os filma preocupado em captá-los na dimensão humana, rotineira como a
de cada um de nós.
Pouco se vê dos detentos assim como do que
estão acima dos agentes na administração do sistema carcerário. A atenção
concentra-se nas precariedades e tensões do dia a dia. Mas sobretudo o protagonista,
o inspetor de equipe Jefferson Walkiu, faz a ponte entre o trabalho e a casa,
estendendo-se em seu caso essa dimensão particular à sua atividade como pastor
pentecostal.
A experiência pessoal do diretor e a
marcante intimidade desenvolvida com seu personagem central garantem ao filme
uma rara cumplicidade em sua narrativa. Walkiu se impõe assim quase como um
tipo ideal weberiano, equilibrando-se entre a punição (a cadeia) e a salvação
(a igreja), isto é, o real e o ideal. Para nos livrarmos da bárbarie, é preciso
ouvir seus gritos mais silentes.
Todas as segundas-feiras às 22h, com reapresentação às 13h30 das quartas-feiras e às 18h dos domingos.
Sky – canal 55
Claro TV – canal 67
Net - canal 150
Vivo TV – canal 79 (cabo) canal 566 (DTH)
Oi TV – canal 66
GVT – canal 103
Curadoria, Apresentação e Direção Geral: Amir Labaki
Produção Executiva: Mônica Guimarães
Assistentes de produção: Ana Paula Almeida e Tetê Andriolli
Fotografia: Erick Mammoccio
Técnico de Som: Leandro Alves
Edição: Beatriz Domingos
Direção: Kiko Mollica
Gravado no Reserva Cultural
Realização: É Tudo Verdade e Canal Brasil