Nosso filme da semana é o documentário baiano “Cuíca de Santo Amaro”, lançado por Joel de Almeida e Josias Pires em 2012 na mostra competitiva de nosso festival.
Logo de saída, uma epígrafe de Glauber Rocha anuncia uma “figura mitológica”. Cuíca de Santo Amaro, como ficou conhecido em Salvador o jornalista e poeta popular José Gomes, cortou dos dois lados: criando mitos urbanos na Salvador pré-metropolitana tornou-se ele mesmo protagonista de um deles.
Cuíca viveu entre 1907 e 1964. Autoproclamava-se “trovador repórter”. O poeta Capinan prefere classificá-lo como “um poeta iconoclástico”.
Semanalmente, Cuíca lançava um novo romance de cordel inspirado por fatos cotidianos. Escrevia, levava para Sinészio Alves ilustrar, caçava anúncios, acompanhava a impressão e vendia dia sim e dia também pelas ruas da capital baiana, fazendo em voz alta o “trailer” do enredo da semana. “Uma organização”, assim o definia Jorge Amado.
Casos policiais, escândalos políticos e fofocas de ocasião formavam seu repertório básico. Basta ver os títulos: “A Mulher Que Mordeu a Orelha do Açougueiro”, “Os Embromadores do Povo”, “A Professora Que Deixou O Marido Desarmado”.
O próprio cinema ficcional baiano cuidou de imortalizá-lo na abertura do pioneiro “A Grande Feira”, de Roberto Pires. O cordelista argentário de “O Pagador de Promessas” foi também nele inspirado. Nos anos 1980, até Millôr lembrou-o numa de suas páginas semanais em Veja.
Joel e Josias recuperaram tudo isso num filme que tem tanto a leveza quanto a eficiência do personagem. Muniz Sodré o vê como inspirador de Chacrinha, Julio Medaglia como precursor do Tropicalismo, Mino Carta com muito menor simpatia. Não faz mal – o que importa é que Cuíca está de volta. Não bulam com ele.
Programa no Canal Brasil
Sky – canal 55Claro TV – canal 67Vivo TV – canal 79 (cabo) canal 566 (DTH)Oi TV – canal 66GVT – canal 103
Apresentação: Amir Labaki
Curadoria, Apresentação e Direção Geral: Amir Labaki // Produção Executiva: Mônica Guimarães // Assist. de produção: Ana Paula Almeida // Fotografia: Erick Mammoccio // Assist. de gravação: Daniel Domingues // Edição: Mariana Fumo // Direção: Kiko Mollica // Gravado no Espaço Itaú de Cinema // Realização: É Tudo Verdade e Canal Brasil