
Nosso filme da semana é “Getúlio Vargas”, realizado em 1974 pela
cineasta Ana Carolina.
Pois é: antes de consagrar-se no cinema de ficção, com
filmes como “Mar de Rosas” e “Das Tripas Coração”, Ana Carolina dedicou-se ao
documentário. Fez curtas marcantes como “Lavra-dor”, em parceria com Paulo
Rufino, e “Indústria”, e mesmo sua estréia em longa-metragem foi não-ficcional,
exatamente com “Getúlio Vargas”.
É importante um pouco de contexto para destacar o tamanho da
empreitada. Em primeiro lugar, apenas um longa documental sobre a principal
liderança política do século 20 no Brasil havia sido lançado quando ela
arregaçou as mangas. O precursor foi
"Getúlio Vargas, Glória e Drama de um Povo"
(1956), de Alfredo Palácios, uma produção polêmica e atribulada ainda na
ressaca do suicídio do presidente.
Em segundo, o longa de batismo de Ana Carolina veio à luz em
pleno auge da repressão e da censura pelo regime militar, instalado pela
deposição do principal herdeiro de Getúlio, João Goulart. Eram naturalmente
raros os documentários políticos, escassos os longas não-ficcionais, ainda mais
incomuns filmes de arquivo.
A cineasta editou-o no prazo recorde de 40 dias a partir
essencialmente de materiais da Cinemateca Brasileira, sobretudo cinejornais do
DIP e da Agência Nacional, e, em suas próprias palavras, "algumas coisas
da família Vargas". Para narrá-lo, Ana Carolina convidou outro gaúcho, o
ator Paulo César Pereio.
Ana Carolina assina o texto narrado, ao lado de um dos
consultores do filme, o sociólogo e historiador alagoano Manoel Maurício de
Albuquerque, aposentado pelo AI-5, preso e torturado pela ditadura. Creio que
não se compreende devidamente o enfoque de “Getúlio Vargas” sem frisar esta
parceria.
De sua abertura, com a leitura integral da Carta-Testamento
ilustrada por imagens da derradeira vitória na derrota de Vargas, à conclusão,
com a canção fúnebre sobre cenas da comoção popular em sua despedida, o
documentário destaca os aspectos da herança de Getúlio mais incômodos ao regime
militar vigente na época da produção.
Passando por cima de sua história pré-1930, destaca-se de
Getúlio a liderança trabalhista, nacionalista, popular, seja no período
revolucionário, no autoritário do Estado Novo ou no democrático dos anos 1950,
e releva-se seu lado despótico, oportunista, maquiavélico.
Assim, deve-se ler o filme tanto como um elogio a Vargas quanto
como uma crítica à ditadura militar. O primeiro enfoque envelheceu; o segundo,
jamais perderá relevância e atualidade.
Programa no Canal Brasil
Sky – canal 55Claro TV – canal 67Vivo TV – canal 79 (cabo) canal 566 (DTH)Oi TV – canal 66GVT – canal 103

Apresentação: Amir Labaki
Curadoria, Apresentação e Direção Geral: Amir Labaki // Produção Executiva: Mônica Guimarães // Assist. de produção: Ana Paula Almeida // Fotografia: Erick Mammoccio // Assist. de gravação: Daniel Domingues // Edição: Mariana Fumo // Direção: Kiko Mollica // Gravado no Espaço Itaú de Cinema // Realização: É Tudo Verdade e Canal Brasil